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Dia dos Povos Indígenas: entenda por que ‘dia do índio’ é considerado pejorativo

A data era chamada de “dia do índio”. Porém, a Lei 14.402, de julho de 2022, mudou a nomenclatura. Defensores das causas indígenas argumentam que a mudança foi de um termo genérico para uma expressão que considera a diversidade dos povos indígenas que vivem no Brasil.

Para Márcio Kókoj Werá Popyguá, líder espiritual da Terra Indígena Mangueirinha, no Paraná, a mudança reflete numa nova visão sobre os indígenas e retira o tom pejorativo da palavra “índio”, atribuída aos povos originários por quem, segundo ele, invadiu terras latino-americanas desde o século XV.

“O pejorativo ocorre de várias formas, pelo pensamento dos invasores portugueses ao chegarem no Brasil e de acharem ter chegado as índias, no processo de colonização, mas eram outros povos [que viviam aqui], os originários, nós, os indígenas”, explicou Márcio.

Povos indígenas que marcam cultura e história do Paraná lutam para manter vivas as tradições — Foto: Divulgação

“Esse termo ‘índio’ para nós não era bom, há muitos anos a gente vinha tentando mudar isso e, agora sim, temos povos indígenas, para representar as etnias, o respeito às etnias, à questão da originalidade do povo, ou seja, somos povos originários do Brasil”, disse Márcio.

Para a cacique da Terra Indígena ilha da Cotinga, no Paraná, Juliana Kerexu Rete Marian, o novo nome traz um debate importante sobre a forma como os indígenas são vistos na sociedade e reforça a ancestralidade, uma vez que indígena tem significados etimológicos como “nascido ali” e “originário”.

“É um grande significado porque traz uma outra forma de entendimento para o não indígena, de reconhecer também, entre aspas, ‘qual é o lugar do indígena hoje?’. […] Tudo isso traz também o valor e as raízes dessa ancestralidade, exatamente tudo que nessa visão do brasileiro não tem hoje, de um diálogo e uma educação”, afirmou Juliana.

Como surgiu o ‘dia do índio’ e a luta pela mudança de nome

Para o professor, a criação da data e o uso dela no Brasil, até os anos 1980, tinham o olhar ocidental de associar datas comemorativas ao consumo ou mesmo de lembrar das causas apenas em dias específicos.

“Na década de 80, aqui no Brasil, com a ação do movimento indígena e de organizações indigenistas, começaram a questionar essa data, não a data em si, mas o estabelecimento de um dia para comemorar o ‘dia do índio”, relembrou o professor.

“Propuseram não se restringir a um dia, mas a uma semana. E também a mudança no nome, primeiro reconhecendo que não são índios, termo equivocado, porque são povos”, afirmou o professor.

Ele alerta, no entanto, que a data não pode servir apenas como celebração, mas que deve ser vista sobretudo, como um período contínuo de ações que insiram os indígenas nos debates diários como protagonistas da própria história.

“Está relacionada a uma tomada de consciência do movimento indígena e movimentos indigenistas de pensar os povos indígenas como sujeitos protagonistas de processos históricos. De desconstruir visões equivocadas como o próprio termo ‘índio’, e também propor que a sociedade não pense o indígena apenas em uma data, mas que todo dia seja pensado como o Dia dos Povos Indígenas, como atividade permanente”, reforça.

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