Eleições 2024 no Paraná registram quase mil candidaturas femininas a menos que pleito municipal de 2020

Paralelamente, em 2020, o estado teve 24.568 candidaturas masculinas. Agora, em 2024, são 22.445 homens que concorrem às eleições.

Tanto neste pleito quanto no anterior, elas seguem representando 34% das candidaturas. Por outro lado, elas são a maior parte do eleitorado, com 52% de representatividade nas urnas; homens são 48%.

Na análise isolada, o único cargo que teve crescimento de candidaturas femininas no Paraná foi o de prefeito: de 149 em 2020, as candidaturas delas subiram para 235.

Em nenhum dos cargos disponíveis no estado, a representação na disputa passa de 35%. Situação semelhante ao Brasil, que apresentou 34% de candidatas mulheres em 2020 e 2024. Confira abaixo os dados do Paraná:

Candidaturas femininas no Paraná em 2020 e 2024 — Foto: Artes/RPC – Ivan Luís Rasera

A presidente do Núcleo de Diversidade e Inclusão do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) e especialista em candidaturas femininas, Flávia Viana, afirma que ainda não é fácil para as mulheres e que elas são apenas sub-representadas na política.

Flávia comenta que entre os parlamentos de 183 países, o Brasil aparece no 132º lugar em relação à representatividade das mulheres. O ranking é feito mensalmente pela Inter-Parliamentary Union.

“Apesar de todas as ações afirmativas e da política de cotas ,nós percebemos uma dificuldade muito grande que as mulheres enfrentam tanto para ingressar na política quanto para permanecer. O Brasil está atrás de países menos desenvolvidos. Na América Latina, hoje o Brasil ocupa o último lugar.”

Segundo a pesquisadora, a participação de mulheres na política contribui para a democracia e fomenta a criação de políticas públicas mais inclusivas. Na visão dela, uma das formas de combater a falta de participação feminina é lutar contra a violência política de gênero, que ocorre quando são criados obstáculos para restringir direitos políticos das mulheres.

“Ter mais mulheres na política e representantes de outros segmentos sociais minoritários é ter uma política mais diversa. Uma política mais inclusiva, que resulta numa democracia mais qualificada e mais saudável”, diz.

Dificuldade nas eleições e nos partidos

A baixa presença feminina nas eleições não é diferente da realidade observada dentro dos partidos. Elas seguem sendo minoria e preenchendo apenas as vagas reservadas pela cota de gênero na maior parte das vezes, como explica Flávia.

“Elas costumam ficar na base da hierarquia intrapartidária e têm muita dificuldade em ascender aos espaços de tomada de decisão dentro dos partidos. Isso faz com que elas não se fortaleçam e não se sintam confortáveis.”

Para evitar esse problema, a lei determina que cada partido ou coligação registre o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. Ou seja, em todo território nacional, é obrigatório que pelo menos 30% das candidaturas sejam de mulheres.

No caso da sigla lançar apenas candidatos para eleições majoritárias (presidente, governadores e prefeitos), não há necessidade de aplicar a cota de gênero, conforme a legislação.

Confira os percentuais de mulheres por partido político no Paraná divulgados pelo sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e analisados em 6 de setembro:

  • AGIR – de 501 candidaturas, 34,33% são femininas
  • AVANTE – de 721 candidaturas, 33,98% são femininas
  • CIDADANIA – de 637 candidaturas, 35,01% são femininas
  • DC – de 354 candidaturas, 33,33% são femininas
  • MDB – de 3.051 candidaturas, 33,20% são femininas
  • MOBILIZA – de 158 candidaturas, 29,75% são femininas
  • NOVO – de 715 candidaturas, 33,71% são femininas
  • PC do B – de 76 candidaturas, 51,32% são femininas
  • PCO – não apresentou nenhuma candidata mulher
  • PDT – de 1.414 candidaturas, 33,59% são femininas
  • PL – de 3.146 candidaturas, 32,52% são femininas
  • PMB – de 554 candidaturas, 33,75% são femininas
  • PODE – de 1.872 candidaturas, 33,01% são femininas
  • PP – de 3.237 candidaturas, 32,90% são femininas
  • PRD – de 1.172 candidaturas, 34,04% são femininas
  • PRTB – de 466 candidaturas, 33,05% são femininas
  • PSB – de 1.813 candidaturas, 34,03% são femininas
  • PSD – de 3.885 candidaturas, 33,49% são femininas
  • PSDB – de 1.203 candidaturas, 33,92% são femininas
  • PSOL – de 138 candidaturas, 36,23% são femininas
  • PSTU – não apresentou nenhuma candidata mulher
  • PT – de 2.088 candidaturas, 37,31% são femininas
  • PV – de 463 candidaturas, 39,96% são femininas
  • REDE – de 208 candidaturas, 35,10% são femininas
  • REPUBLICANOS – de 2.069 candidaturas, 34,27% são femininas
  • SOLIDARIEDADE – de 1.067 candidaturas, 33,46% são femininas
  • UNIÃO – de 2.915 candidaturas, 33,83% são femininas

Candidaturas laranjas

Segundo Flávia, muitos partidos ainda recorrem às chamadas candidaturas laranjas. Nestes casos, são selecionadas mulheres que não têm interesse em concorrer às eleições, mas participam para ajudar os partidos a conseguirem recursos públicos do Fundo Partidário, usado para custear atividades rotineiras das legendas, e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) ou Fundo Eleitoral, distribuído apenas em anos eleitorais para financiar campanhas.

Para a especialista em candidaturas femininas Flávia Viana, neste ano, o TSE definiu novos critérios para identificar candidaturas laranjas.

“Votação zerada é uma delas. Porque, às vezes, a mulher se candidata e nem ela vota nela mesma. Então, esse é um indício. As consequências são drásticas, porque são referentes a cassação de toda a chapa”, diz Flávia.

Outros sinais de que um partido registrou candidatas laranjas são:

  • ausência de movimentação financeira relevante ou prestação de contas zerada
  • ausência de atos efetivos de campanhas, como divulgação ou promoção da candidatura de terceiros

VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná

Em nota, os dois partidos sem candidatas mulheres nestas eleições no Paraná – Partido da Causa Operária (PCO) e Partido Socialista de Trabalhadores Unificado (PSTU) – disseram ao g1 Paraná que registraram apenas candidatos para as eleições majoritárias (prefeito).

Apesar de concordarem com as cotas de gênero, os representantes dos dois partidos julgam que as regras da Justiça Eleitoral inviabilizam o desenvolvimento das siglas operárias e consequentemente dificultam o registro de mais candidatos e candidatas.