Produtores de Carambeí, nos Campos Gerais do Paraná, querem que as tortas doces típicas da cidade recebam o título de Indicação Geográfica (IG), uma certificação nacional concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e que potencializa a valorização e reconhecimento de produtos.
Na cidade, maior colônia holandesa do Brasil, as tortas começaram a fazer sucesso nos anos 2000. O historiador Felipe Pedroso explica que, durante anos, a cidade acreditava que a tradição da torta tinha sido “trazida na mala” pelos holandeses, mas segundo Pedroso, a cultura foi ganhando força, na verdade, a partir de referências culturais variadas de Carambeí.
“Ou seja, a torta só existe a partir da realidade de Carambeí”, resume.
Em 2023, a Associação dos Produtores de Tortas de Carambeí (APTC), em conjunto com o Sebrae, começou a trabalhar para obter a IG na modalidade Indicação de Procedência (IP). O processo envolve a apresentação de documentos técnicos específicos, sustentando a relevância do produto.
Segundo a consultora do Sebrae Nádia Joboji, a expectativa é que até julho seja formalizado o pedido dos produtores para que o INPI avalie se as tortas podem, ou não, receber o reconhecimento.
De tradição a negócio
Torta Holandesa é um dos carros-chefes da confeitaria de Frederica Dykstra — Foto: Divulgação
O historiador Felipe Pedroso explica que, inicialmente, as tortas ficavam mais restritas ao interior das residências, sendo uma refeição mantida entre as famílias após cultos religiosos, como os holandeses faziam. Com o tempo, porém, as tortas começaram a aparecer nos comércios.
Foi o caso de Frederica Dykstra, que junto ao marido, começou a comandar uma confeitaria em 2002. O que começou como um sonho, virou a renda oficial da família. Mesmo após a morte do marido, ela resolveu continua investindo. Hoje, ela conta com confeitarias que acomodam mais de 200 pessoas e oferecem mais de 60 variedades de tortas e salgados.
O que também ajudou a fomentar a tradição torteira foi o Festival de Tortas, criado em 2010. O evento também serviu para impulsionar o potencial confeiteiro da cidade.
Foi na ocasião que o empresário Diego Wolf, por exemplo, decidiu entrar no negócio.
“Nós iniciamos na atividade com o 2º Festival de Tortas. Depois disso, a vontade em criar doces e ver o sentimento das pessoas refletido em um sorriso no rosto após experimentar um pedaço de torta foi o que nos deixou com mais vontade de preparar essas delícias”, explica o empresário.
Outro local que explora o potencial econômico das tortas, e o associa ao turismo de Carambeí, é o lavandário Het Dorp. Embora o projeto inicial do lavandário Het Dorp não tenha contemplado a venda de tortas, a demanda dos turistas falou mais alto.
“Por enquanto estamos com um cardápio reduzido, com 6 sabores, já que adaptamos a cozinha da queijaria para fabricar as tortas. Mas estamos construindo um café maior”, diz um dos sócios proprietários do estabelecimento, Paulo Ricardo Los.