Vereador foragido por matar sobrinho no Paraná é processado por falas misóginas em sessões da câmara; VÍDEO

De acordo com o MP-PR, as declarações foram dadas em pelo menos três oportunidades diferentes. Duas foram gravadas pela transmissão oficial feita pela casa nas redes sociais. Assista acima.

“Patrolar uma rua é como uma senhora varrer a casa. É tão fácil fazer isso”, disse Odílio em 21 de março de 2023.

“Patrolar uma estrada é a mesma coisa que uma senhora varrer a casa, não faz mais do que a obrigação”, disse o vereador em 16 de abril de 2024.

Para o MP-PR, as declarações são ofensivas à dignidade das mulheres, “reforçando estereótipos de gênero e menosprezando a luta histórica por igualdade de direitos”.

“Entre elas, há discursos indicando que caberia às mulheres fazer apenas afazeres domésticos, como obrigações e em obediência ao marido”, afirma o órgão.

Por isso, o órgão ajuizou uma ação civil pública contra o vereador, e afirma buscar reparação por danos morais coletivos.

No processo, o Ministério Público requer a condenação do vereador ao pagamento de uma indenização por danos morais coletivos em R$ 60 mil, valor a ser destinado a fundos públicos focados na promoção da igualdade de gênero e no combate à discriminação.

“Além disso, o MP-PR solicita que o vereador realize uma retratação pública, reconhecendo o erro e comprometendo-se a não reincidir em práticas discriminatórias”, afirma.

O g1 tenta identificar a defesa de Zé Odílio nesta ação.

Sobre o processo de homicídio, o advogado que defende o vereador afirma que está tentando reverter a decisão de prisão preventiva para que ele possa responder o processo em liberdade.

Em nota, a Câmara Municipal de Reserva disse que encaminhará aos vereadores, na próxima sessão, os documentos relativos à ação civil pública e que os parlamentares serão devidamente informados sobre o teor do processo “para que possam adotar as medidas que julgarem cabíveis, inclusive a eventual abertura de um processo de cassação de mandato, conforme preveem a legislação e o Regimento Interno”.

“A Câmara Municipal de Reserva lamenta profundamente os fatos ocorridos e reforça seu compromisso com o respeito e a dignidade de todos os cidadãos, independentemente de gênero, crença ou opinião. Esta Casa reafirma a importância da convivência harmoniosa e do respeito mútuo nas discussões públicas e na atuação parlamentar”, complementa. Veja a nota completa mais abaixo.

O g1 também questionou o posicionamento do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) no Paraná e aguarda resposta.

Zé Odílio (MDB) é vereador em Reserva — Foto: Reprodução

Fundamentos da ação civil pública

De acordo com o Ministério Público, a ação civil pública se fundamenta na Constituição Federal, em tratados internacionais de direitos humanos como a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher e a Convenção de Belém do Pará, e também e em leis brasileiras que protegem os direitos das mulheres.

“Embora não configure crime no Brasil, o discurso que promove discriminação contra mulher é considerado um ilícito civil. Como responsável pela proteção dos direitos de grupos vulnerabilizados, como as mulheres, o MP-PR busca a reparação por danos morais coletivos quando esses direitos são violados”, ressalta o órgão.

Na visão da Promotoria, as falas do vereador desrespeitam princípios constitucionais, como a igualdade de gênero, e constituem discurso de ódio “que não pode ser tolerado em um Estado Democrático de Direito”.

Réu por homicídio

Zé Odílio se tornou réu na Justiça por homicídio triplamente qualificado.

O agricultor Diorgenes Fernando Ferraz Lemes de 24 anos foi morto em Reserva (PR) — Foto: Redes sociais

Na denúncia, o MP-PR considerou os agravantes de motivo fútil, o uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e o perigo comum, uma vez que o assassinato foi durante um velório do qual várias pessoas participavam. O processo tramita sob sigilo.

Na época, o advogado responsável pela defesa do vereador afirmou que José Odílio “estava sendo ameaçado gravemente pelo sobrinho e temia por sua vida diante do histórico criminal do sobrinho”.

Em agosto, o vereador recebeu uma licença da Câmara Municipal que permite o afastamento dele das atividades legislativas por três meses.

O que diz a Câmara Municipal

Veja, abaixo, a nota completa encaminhada pela Câmara Municipal de Reserva nesta quinta-feira (5):

A Câmara Municipal de Reserva informa que, dentro de suas normas regimentais e de acordo com as disposições legais vigentes, encaminhará aos vereadores, na próxima sessão, os documentos relativos à ação civil pública movida pelo Ministério Público contra o vereador José Odílio dos Santos, acusado de proferir diversas manifestações ofensivas contra mulheres nas redes sociais e em sessões ordinárias desta Casa. Os parlamentares serão devidamente informados sobre o teor do processo para que possam adotar as medidas que julgarem cabíveis, inclusive a eventual abertura de um processo de cassação de mandato, conforme preveem a legislação e o Regimento Interno.

A Câmara Municipal de Reserva lamenta profundamente os fatos ocorridos e reforça seu compromisso com o respeito e a dignidade de todos os cidadãos, independentemente de gênero, crença ou opinião. Esta Casa reafirma a importância da convivência harmoniosa e do respeito mútuo nas discussões públicas e na atuação parlamentar.

Destacamos, ainda, o papel fundamental da mulher na política nacional, estadual e municipal. A luta por igualdade de direitos e oportunidades tem sido uma bandeira de transformação ao longo da história. A presença feminina na política enriquece o debate democrático, contribui para decisões mais representativas e fortalece a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A Câmara de Reserva reitera seu compromisso com a defesa da inclusão e da igualdade de gênero em todos os espaços, especialmente naqueles voltados à representação política.

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